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Postada por: Jr Lopes dia 30/11/2015
Prisão de Delcídio instala pânico em Brasília
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Os últimos acontecimentos na operação Lava Jato confirmam Brasília mergulhada em um mar de lama (Foto: Divulgação)


A magnitude do abalo político sentido no Planalto Central brasileiro na semana passada, iniciado com a prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS), em pleno exercício do mandato, ainda não pôde ser medida. As réplicas da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) rondam o Distrito Federal desde a última quarta-feira e mantêm entre parlamentares a sensação de que um novo "incidente" – classificação dada pelo ministro chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini – poderá vir a qualquer momento.


Considerando que outros políticos são investigados pela operação Lava Jato e a confirmação dos acordos entre a construtora Andrade Gutierrez e o Ministério Público Federal (MPF), o analista político Elve Cenci define que Brasília (DF) vive um "clima de pânico". "Ninguém mais sabe quem poderá ser o próximo." Delcídio, que já foi filiado ao PSDB, era um dos poucos petistas que mantinham um diálogo harmonioso com a oposição. Ele foi preso junto com o banqueiro André Esteves, um dos principais financiadores das campanhas eleitorais de políticos de diversos partidos.


A nota divulgada pelo PT nacional, no dia da prisão, se distanciando das ações do ex-líder do governo no Senado, e os anúncios de uma iminente expulsão, sinalizam que a primeira tentativa foi recriar a figura do "bode expiatório" para canalizar todo o mal para o filiado que se desviou. "Estratégia semelhante foi utilizada pelo partido no caso do ex-deputado André Vargas", lembrou Cenci. Vargas, cassado no final do ano passado e preso em Curitiba há sete meses, foi pressionado a deixar o partido antes de perder o mandato.


Cenci explica que a estratégia de "imolar um para salvar os demais" não é exclusividade petista. "Infelizmente, sempre acontece assim na política brasileira. Para não criar uma crise maior e não mexer com as estruturas de poder, isola-se para expiar os males. Foi assim no caso Collor. Embora ele tenha perdido o mandato, a figura a ser odiada pela opinião pública foi o PC Farias. No mensalão, foi imolado o ex-ministro José Dirceu", comparou o analista.


As gravações feitas por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras, na reunião sobre o possível plano de fuga, mostram citações de nomes de peso dos Três Poderes, como o vice-presidente da República, Michel Temer, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e ministros do STF, revelando a confiança de Delcídio na ajuda deles na ação criminosa que liberaria Nestor Cerveró. Para o professor de Ética e Filosofia Política da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Clodomiro Bannwart, "isso coloca em xeque a credibilidade das instituições". "Essa tranquilidade dele ao falar sobre o apoio na liberação do Cerveró dá a sensação de que há um estado de exceção paralelo ao estado democrático de direito."


Durante a sessão extraordinária, na qual os senadores referendaram a decisão do STF e mantiveram o colega na cadeia, houve a intenção do próprio Renan e da bancada petista de reorganizar a Casa e salvar Delcídio, fazendo a votação fechada, mas "a prisão foi tão repentina que não houve sequer tempo para que os senadores se articulassem no corporativismo já tradicional", observou Bannwart.


Para Cenci, a atitude do STF, determinando a prisão, mais tarde mantida pela Segunda Turma, também foi uma tentativa de evitar a descrença na Corte. "A decisão de prender foi uma espécie de corte rápido nas ilações que iriam surgir sobre o favorecimento a Cerveró, conforme aparece nas gravações. Ministros e políticos foram citados, mas até agora ninguém os questiona. Sobrou só para o Delcídio, por enquanto."


Fonte: Folha de Londrina







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