Os bastidores da trajetória de Dilma Rousseff, de jovem militante a primeira mulher a ocupar a presidência do Brasil, são relatados no livro "A vida quer é coragem", do jornalista e ex-assessor da Casa Civil, Ricardo Batista Amaral. A obra foi lançada nesta quinta-feira (15), em uma livraria, em Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro.
Além da foto inédita de Dilma sendo interrogada por militares, durante o período de ditadura, o livro ainda apresenta imagens da presidente em família, em cochichos com o presidente Lula, e em crises do governo petista, como o mensalão.
Amaral ressalta que o livro é uma obra jornalística, fruto de uma pesquisa de 25 anos de trabalho como repórter de política. Para desvendar os segredos de Dilma, o autor ouviu os ex-maridos dela, Carlos Araújo e Cláudio Galeno, o secretário pessoal da presidente, além de militantes da extinta organização clandestina Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares, liderada pela presidente.
"Eu não a entrevistei para este livro. Usei depoimentos que ela fez para a campanha eleitoral e uma reflexão dela sobre a ditadura dado ao cineasta Silvio Tendler, que me cedeu o depoimento integral, de 1 hora de duração. Fiz isso também para preservar minha autonomia e a responsabilidade dela. A entreguei o livro na semana passada, ela viu a foto do pai, e ficou muito emocionada. Ela gosta muito do pai e ficou emocionada em rever a imagem", contou Amaral.
Aproximação com Lula
O jornalista revela como ocorreu aproximação de Dilma com Lula, a chegada à chefia da Casa Civil em plena crise do mensalão, e a escolha como candidata do PT. "A aproximação foi em 2001, quando o país passava pela crise do apagão. Ela era naquele momento, o quadro mais qualificado do PT nesse assunto. Foi ela quem orientou o Lula sobre isso na campanha, por isso, depois ele fez dela Ministra de Minas e Energia, e ela construiu um novo modelo de energia para o país para superrar aquele problema, e aí de fato ela conquista a confiança policitica e administrativa. O Lula passa a confiar nela como gestora", conclui o autor.
Em relação ao mensalão, Amaral conta que Dilma fez a "retaguarda administrativa, enquanto Lula fez a ação política e eleitoral, conseguindo assim a reeleição". Outro capítulo importante da presidente foi quando ela descobriu o câncer linfático. Amaral diz que, em abril de 2009, Dilma conta à família o diagnóstico que recebeu dos médicos.
"Mas havia outra dimensão na notícia que ela compartilhava com a pequena família: a dimensão da política. Por mais seguro e otimista que fosse o prognóstico dos médicos, câncer era uma palavra maldita quando pronunciada em público, especialmente se relacionada a um candidato presidencial. No Brasil, o estigma da doença poderia despertar no eleitorado a memória
trágica de Tancredo Neves, primeiro presidente civil depois da ditadura, eleito indiretamente em 1985, que morreu sem tomar posse, de uma doença insidiosa que ele tentava esconder", escreveu o jornalista em seu livro.
Presidência fora dos planos
Apesar da militância esquerdista e do enfrentamento aos militares, incluindo a prisão por quase três anos e as dezenas de sessões de tortura nos porões do DOI-Codi, Amaral diz que Dilma não sonhava com a presidência do Brasil.
"A presidência da República jamais esteve nos planos de Dilma. Nem em sonhos. Que se lembrasse, quando criança queria ser bailarina, porque achava bonito, ou entrar para o Corpo de Bombeiros, que nem era profissão de menina, mas era bonito também. Em dezembro de 2008, quando conversou sobre o assunto com Carlos (ex-marido) e Paula (filha), faltavam quase dois anos para as eleições. Nada era oficial ainda, mas o projeto Dilma presidenta era bem mais do que a insinuação feita por Lula no começo do ano, quando a chamou de 'mãe do PAC' no lançamento das obras do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro", finaliza Ricardo Amaral.
Fonte: G1